1. |
Willard Suitcases
03:45
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Um par de sapatos
Um espelho quebrado
Uma carta sem destino
Flores desbotadas
Numa mala de couro, no fundo de um sótão
Paredes enegrecidas de um velho asilo
Vidas apagadas, memórias esquecidas
Rostos desconhecidos naquela velha fotografia
Pacientes trancados pelo resto de suas vidas
A noite chegou
O fim de suas jornadas
Entre aqueles muros...
Suas lembranças foram sepultadas
E as luzes se apagaram
Lágrimas secas, atravessando os tempos
Você ainda pode ouvir os seus suspiros?
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2. |
Antífona
04:06
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Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!...
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras...
Formas do Amor, constelarmente puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas...
Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...
Visões, salmos e cânticos serenos,
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...
Infinitos espíritos dispersos,
Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios.
Do Sonho as mais azuis diafaneidades
Que fuljam, que na Estrofe se levantem
E as emoções, todas as castidades
Da alma do Verso, pelos versos cantem.
Que o pólen de ouro dos mais finos astros
Fecunde e inflame a rima clara e ardente...
Que brilhe a correção dos alabastros
Sonoramente, luminosamente.
Forças originais, essência, graça
De carnes de mulher, delicadezas...
Todo esse eflúvio que por ondas passa
Do Éter nas róseas e áureas correntezas...
Cristais diluídos de clarões álacres,
Desejos, vibrações, ânsias, alentos,
Fulvas vitórias, triunfamentos acres,
Os mais estranhos estremecimentos...
Flores negras do tédio e flores vagas
De amores vãos, tantálicos, doentios...
Fundas vermelhidões de velhas chagas
Em sangue, abertas, escorrendo em rios...
Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,
Nos turbilhões quiméricos do Sonho,
Passe, cantando, ante o perfil medonho
E o tropel cabalístico da Morte...
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3. |
Maestro
06:41
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Genialidade exacerba notas
Ensinos da vida ardil
Sentimentos confusos
Em mente original e nervosa
Maestro sóbrio
Turbilhão de sons
Maestro sóbrio
Vento impetuoso que sopra
Expurga o fel da vida
Amedronta o outro
Com a mais pura desgraça
Fúria venosa
Entrega na mais nobre das artes
O cuidado na peça musical
Expressa sentimentos fortes
Na magistralidade das cordas
Extraordinária paixão – passamento
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4. |
Inanição
06:55
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Infinita campina de ermo
Que outrora transbordava grão
Um povo talhado enfermo
Drenado de todo o seu pão
Comissários fiscais da miséria
Vasculham gavetas e frestas
Empunham caretas infestas
Esbaldam festiva pilhéria
Marasmáticos homens inermes
Inchados por parco aporte
Aguardam, assim como os vermes
A lenta chegada da morte
Opostos na vasta planície
Burocratas brindam em júbilo
Força de aço, dedos em riste
Triunfo do estandarte rubro
E o que primeiro perece
Provê alívio ao segundo
Que a seu instinto obedece
Em um canibalismo imundo
Crias no limite da vida
Nutrem pais barbarizados
E pais com prudência devida
Deixam órfãos abandonados
Peste! Guerra! Fome! Morte!
Cadáveres povoam as ruas,
As casas, e os descampados
Despejados em covas cruas
Sem datas, nomes apagados
E o silêncio domina os campos
Tomados por erva daninha
Ensurdece todos os santos
A humanidade definha...
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5. |
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De belicoso caos pavimentou-se
O leito vil de um rio austero
Que em implacável purga trouxe
O alvorecer de um novo clero
Avenidas afora, moradas adentro
A nova palavra vai sendo marcada
Brasa na pele em diverso intento
Ou tinta de pena em tábula rasa
Tropa de choque na zona de risco
Ufana utopias em ricas ideias
Afã guerreiro de nobre patrício
Dragonas vãs das massas plebeias
O cânone novo se torna total
Os antagonistas se entocam, à míngua
Tremores de pânico, temor sem igual
Cautela mortal a deslizes da língua
Vícios puros do caos construtor
Emergem e ofuscam a vitória da fé
Expurgados serão num golpe indolor
Com nenhum ímpio restando em pé
Apagadas da história, obliteradas
Rasgadas as páginas torpes, imundas
Extirpado o cancro de eras findadas
Com punhais longos, feridas profundas
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6. |
A Cadela de Buchenwald
04:49
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Cadenciado trote de um predador
um denso olhar, absorto em lascívia
desvelado sadismo em aroma de flor
ceifador estoico da alma à deriva
Fronteira final de arame farpado
torres, fuzis, chicotes e fornos
profano curtume de pele em adornos
carcassas magras deixadas de lado
A cadela preda, lançada a sorte!
A cadela treda, emissária da Morte!
Lâmpadas, luvas e capas de livros
tingidas da dor, do ódio e do medo
desses figurantes de fúnebre enredo
apinhados em celas e esfolados vivos
Olhares abaixo, evitando o contato
a amazona irascível circula altiva
luxúria infernal a procura de tato
da ponta do açoite com a carne viva
Espólios provindos da vil libação
enfeitam e encantam a densa floresta
um ranço terrível de putrefação
e o eco eterno do Mal que a infesta...
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7. |
Occipício
05:20
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Quietude crepuscular perece
Ante o murmúrio infernal de pás
Tal qual lamúria final da paz
É refratário a toda prece
Autofagia eslávica arranjada
Diplomacia perversa em curso
Sob o olhar do férrico urso,
Sob artilharia pesada
Acordo funesto, moribundo
Semeia a terra pátria
Escavadeiras, valas e defuntos
Inovando em covardes táticas
Semblante frio, pequenino
Ondas de pânico emergem
Forjados laços divinos
Todos os mortais arrefecem
Caçambas lotadas
Almas condenadas
Espíritos quebrados
Destinos selados
Abafado, rítmico estouro
Conteúdo cranial espalhado
Corpo espasmando, sangue coagulado
Entremeado a cabelos louros
Cômodo a cômodo a argúcia
Desvenda esse tétrico som
Do carrasco em pleno frisson
Que aduba o chão da Mãe Rússia
Paredes reforçadas
Braços fadigados
Projéteis deflagrados
Occipícios perfurados
Enfeites inermes, criados da guerra
Adornam toda a necrópole, violados, nus
Um dia árduo de trabalho que se encerra
Logo ao primeiro, libertador, feixe de luz
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8. |
A Alvorada das Hienas
02:42
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Ecos distantes de um choque de ideias
Engajamento indireto por procuração
Civis em lavouras, nos campos de grão
São trutas inermes num mar de lampreias
Batalha assimétrica em selvas e ruas
A águia os preda,planando nos céus
Regurgita chamas, fatídicos véus
Que queimam mulheres e crianças nuas
E a selva castiga com duras lições
Os jovens recrutas alheios a tudo
Abandonarão seus lençóis de veludo
Para perecer sob o ar das monções
O Sol se aponta, uma nova incumbência
Hienas do tédio sedentas por sangue
Perfilam-se e seguem, como uma gangue
E rumam à morte de toda inocência
E patos e bois e anciãos e infantes
E pais e esposas e tudo o que vive
São alvos de armas de grosso calibre
E nada mais seguirá como antes
E os corpos enfeiam a bela paisagem
A tímida aldeia se cala para sempre
A águia dá a luz ao Mal em seu ventre
E voa para casa em tranquila viagem
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9. |
S-21
03:49
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Clarão fustigante na mata cerrada
Rebentos zelosos de uma nova ordem
A essência do homem é remodelada
Ordália brutal, malogros que eclodem
E busque-se e mate-se o nefelibata
Pois a redenção se dará pela terra
Queime-se o sábio, enterre-se a prata
Purifique-se o ar por meio da guerra
Um êxodo urbano rumado ao abismo
Pilhas de corpos por todos os lados
E todas as formas de iluminismo
São pontos de mácula a ser expurgados
Selva adentro, tortura-se a todos
Sala de aula tornada em masmorra
Brasas, grilhões, pás e eletrodos
Entregue seus pares, definhe e morra
Fluxo imenso, maná para as feras
Retratos de internos desesperados
Gritos de dor que ecoam por eras
Pelos corredores mal-assombrados
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10. |
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Free inside
Of a darkened room
Double side...
Free inside
Of an unforgettable mind
A burning star
King of death
The burning star
King of death
Give it to us
Kissing our heads
Who has been living here
Who has afraid of living...
They've learned how to breath despair
They will die to live there
Poor, epidemic civilization
The end is near
Continuous cycle of destruction
Becomes a thief
Of our own mass
Words in pieces
They'll be consumed
A collection of corpses
Pick up one of them
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11. |
Entropia Humana Final
27:14
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sadtheory Curitiba, Brazil
Death Metal from Curitiba, Brazil
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